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Apresentação da Roda de Jongo Filhos de Benedito |
O II Festival de Museologia Social da Remus-RJ, realizado em 8 de fevereiro de 2025 no Museu de Arte do Rio - MAR, foi uma alegre e vibrante celebração da força e das potencialidades das iniciativas de memória e da Museologia Social no estado do Rio de Janeiro. O evento reuniu experiências diversas que compõem a Rede, destacando a importância da valorização das narrativas comunitárias e do patrimônio cultural como ferramentas de transformação social.
O festival ocupou o MAR com diversas atividades artísticas, culturais e práticas, simultâneas em quatro espaços diferentes: do Térreo/pilotis do museu, passando pelas Salas da Escola do Olhar, do Auditório ao Mirante.
Na abertura, tivemos as falas da museóloga Sarah Braga, articuladora da Remus-RJ e uma das produtoras do evento; de Mãe Zilmar, mãe de santo da Casa de Caridade Pai Benedito D'Angola, representante do Museu Almirante Negro e importante liderança em São João de Meriti; e, por último, do poeta, professor e museólogo Mario Chagas, que nos lembra que, na Museologia Social: "Afetamos e somos afetados, nós não temos medo de museu e de memória. Nós enfrentamos os museus, devoramos os museus, antropofagizamos os museus (…)". Ele encerrou com o poema de Manoel de Barros:
"O olho vê,
a memória revê,
a imaginação transvê,
é preciso transver o mundo."
E acrescentou: "é preciso transver os museus", conduzindo uma dinâmica emocionante com o público, que repetiu a frase em coro.
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Sarah Braga iniciando o II Festival de Museologia Social da Remus-RJ |
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Mãe Zilmar em uma das fala de abertura do II Festival de Museologia Social |
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Poeta e professor Mário Chagas |
No térreo/pilotis, a Feira de Museologia Social aconteceu ao longo de todo o dia. Inspirada nas tradicionais feiras populares ao ar livre, ela contou com barracas ocupadas por diversos museus e grupos que praticam a Museologia Social em seus territórios. Nesse espaço, puderam apresentar seus trabalhos, trocar experiências e saberes, além de vender artes, artesanatos e outros itens que fomentam uma economia criativa e circular.
Além disso, as barracas também foram espaço para a exibição de diversas exposições, trazendo diferentes narrativas e expressões artísticas. Foram elas:
- “Vestígios da História: Os Tesouros de Belford Roxo” e “Desenho Realista – Mulheres Negras”, do Museu Vivo Multiartes de Belford Roxo;
- “Imagens de Memória e Luta”, do Museu das Remoções;
- “Cores e Insurgências: Mulheres Negras no Grafitti” e “Mostra de Pinturas Plásticas”, do Museu de Arte e Cultura da Baixada Fluminense - BXD;
- “Exposição Jota Rodrigues”, do Centro Cultural Jota Rodrigues;
- “As Sementes e Suas Narrativas Ancestrais”, do Museu Vivo das Sementes Crioulas.
Tivemos também em exibição a exposição itinerante “O Museu Somos Nós”, criada em 2023, por uma curadoria coletiva da Remus-RJ. A mostra reúne a história e a prática de alguns dos diversos grupos de Museologia Social que integram a Rede, apresentando suas trajetórias e impactos nos territórios.
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Vestígios da História: Os Tesouros de Belford Roxo” e “Desenho Realista – Mulheres Negras”, do Museu Vivo Multiartes de Belford Roxo |
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Exposição "O Museu Somos Nós" da Rede de Museologia Social do Estado do Rio de Janeiro |
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Exposição através de materiais como camisa, livro e fotografias do Museu das Remoções |
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Exposição do livro "Rocinha: Uma favela em biografia" e de pinturas da artista Kayla, do Museu Sankofa - Museu Memória e História da Favela da Rocinha |
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Exposição representando a potência do território do Ecomuseu Rural |
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Exposição "Jota Rodrigues" do Centro Cultural Jota Rodrigues |
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Fotografias penduradas em varal de barbante do Núcleo de Memórias do Vidigal |
Ainda, no térreo/pilotis do museu, um palco foi montado para receber, ao longo do dia, uma programação intensa de atividades culturais. Foram elas: a Roda de Capoeira promovida pelo Museu Vivo da Capoeira; a Roda de Jongo Filhos de Benedito, do Museu Almirante Negro/AAMMJC; a apresentação de canto de Telma Morena e Reinaldo Amâncio, do Museu Multiartes de Belford Roxo; Cavaquinho e Samba no Pé com Mestre Sorriso, também do Museu Multiartes de Belford Roxo; a oficina de charme conduzida pelo Museu de Arte e Cultura da Baixada Fluminense - BXD; o encerramento da esquete Auto dos Bois, do Museu Afro Virtual do Rio de Janeiro, que vinha sendo realizada no mirante; e, fechando o dia, a Roda de Jongo do Museu Social Jongo do Quilombo Quilombá.
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Cartaz com toda a programação do II Festival de Museologia Social da Remus-RJ na entrada do Museu de Arte do Rio, o MAR
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Mestre Paulo Sorriso na voz e violão |
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Auto dos Bois no Mirante do Museu de Arte do Rio |
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Um dos saguões repletos de memórias vivas na Feira de Museologia Social |
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Guarda chuva de cordéis por Jota Rodrigues abrindo a Feira de Museologia Social |
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Apresentação do Auto dos Bois |
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O professor Jhonny do Museu de Arte e Cultura Urbana da Baixada Fluminense colocando todas e todos em movimento a cultura do Hip Hop através do Charme |
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O Jongo Quilombo Quilombá ao som de "Hoje tem festa no Quilombo Quilombá, Saravá O Nego BISPO que vamos homenagear" |
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Jongo Filhos de Benedito |
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Representantes do Museu Vivo de Multiartes de Belford Roxo |
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Roda aberta do Quilombo Quilombá |
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Saudações ancestrais no Jongo Filhos de Benedito |
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Valéria de Assis na Roda de Capoeira do Museu Vivo da Capoeira |
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Ponto de encontro e aglomeração do público próximo ao palco de atividades culturais do II Festival de Museologia Social da Remus-RJ |
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Museu Vivo da Capoeira com a roda de Capoeira |
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Encerramento das atividades culturais com a Roda de Jongo do Quilombo Quilombá |
Simultaneamente, diversas oficinas trouxeram a prática dos movimentos sociais para dentro do museu, proporcionando aprendizado e troca de saberes. Foram elas:
- Prática de Desenho Realista, do Museu Multiartes de Belford Roxo, que apresentou a técnica do traçado com giz;
- Conectando Raízes, do Ponto de Cultura Chalé Agroecológico, abordando a diversidade de plantas nos saberes e práticas tradicionais;
- A oficina das Erveiras e dos Erveiros do Salgueiro, do Museu Quilombo do Salgueiro, que compartilhou conhecimentos sobre ervas medicinais, além de oferecer mudas e deliciosas empadas de queijo minas com Ora-pro-nóbis;
- Prática de Artesanato com Material Reciclável, do Museu de Favela - MUF, que apresentou alternativas sustentáveis de reutilização de materiais;
- Prática Xarope Mangará, do Museu Vivo da Agroecologia, promovendo a saúde e o bem-estar como alternativa ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados;
- A Coqueteleira é Ancestral, do Saravah Bar Instituto Nômade, que resgatou a cultura viva das garrafadas ao reproduzir a receita tradicional do "Bitter".
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Participação diversa na oficina Conectando Raízes |
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Apresentação da Oficina das Erveiras e Erveiros do Salgueiro/Museu Quilombo do Salgueiro |
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Material para preparo de Bitter por Saravah Bar Instituto Nômade |
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Fuxicos feitos pela artista Antônia Soares, uma das pessoas fundadoras e atual diretora presidente do Museu de Favela |
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Oficina prática de Artesanato com Material Reciclado pelo Museu de Favela |
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Mesa (ex)posta por Saravah Bar Instituto Nômade |
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(re)conhecimentos de plantas através da prática Conectando Raízes do Ponto de Cultura Chalé Agroecológico |
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Detalhe para "O futuro é Ancestral e a humanidade precisa aprender com ele a pisar suavemente na terra" - Ailton Krenak, estampado nas costas da camisa de Jandira Rocha do Museu Vivo da Agroecologia |
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Luízie Lisboa e Gill Ventura são do Saravah Bar Instituto Nômade |
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Saravah Bar Instituto Nômade convidou Cláudio Adriano para orientação e prática |
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Preparo do Xarope Mangará por Museu Vivo da Agroecologia |
No auditório, houve ainda a exibição de filmes e documentários produzidos pelas iniciativas de Museologia Social representando um importante ato de resistência. Entre as produções exibidas, estiveram:
- O Arte Urbana na Roça e Agricultura Familiar na Pandemia, do Ecomuseu Rural de Barra Alegre, um relato sobre aprendizado e adaptação durante esse período desafiador;
- O Milagre das Águas e Vestindo a História de Belford Roxo, ambos do Museu Multiartes de Belford Roxo;
- Respeita Nosso Sagrado, do Museu Memorial Iyá Davina, documentando a libertação e descriminalização de um acervo com mais de 500 objetos sagrados das religiões afro-brasileiras, que foram transferidos para salvaguarda em cerimônia oficial no Museu da República, no dia 21 de setembro de 2020, com a presença de Babalorixás, Ialorixás e representantes do museu;
- Redes de Memória e Resistência, da Remus-RJ, realizado em 2018, um registro da luta e do afeto coletivo que atravessa e ressignifica a memória para além da imaginação.
Outra importante frente de atividade do Festival foi a Gira, que reuniu palestras e debates para discutir o tema central deste ano: a força e a importância da mulher negra nos movimentos sociais. Com elas como protagonistas, três atividades marcaram a programação:
- A roda de conversa “O Poder das Ervas Medicinais”, conduzida por Valéria Assis do Museu Multiartes de Belford Roxo, explorando saberes tradicionais e o papel das ervas na saúde e espiritualidade;
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Telma Moreno e Valéria de Assis na Roda de Conversa "O Poder das Ervas Medicinais" |
- A palestra "A Força do Matriarcado", com Mãe Flávia Pinto, matriarca da Casa do Perdão e integrante do Museu Olga do Alaketu, destacou a relevância do matriarcado no contexto das religiões de matriz africana, abordando sua influência e resistência ao longo do tempo.
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Livro em exposição "Salve o Matriarcado, manual da mulher búfala" de Mãe Flávia Pinto, do Museu Olga do Alaketu |
- E finalizando a programação dos debates, a roda de conversa, "As Raízes dos Movimentos de Cultura Semeadas por Mulheres Negras", mediada por Natália Oliveira, cientista social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, integrante do Museu de Arte e Cultura da Baixada Fluminense e articuladora da Remus-RJ. O debate contou ainda com a participação de Nara Campos, Abyan de Ọ̀ṣun, bibliotecária e mediadora cultural do Museu de Arte do Rio - MAR, Mãe Flávia Pinto, que continuou conosco após sua palestra, e Elaine Almeida, Ekedji suspensa da Casa do Perdão e integrante do Museu Olga do Alaketu, proporcionando um diálogo profundo e potente sobre ancestralidade, ativismo e cultura.
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Da esquerda para a direita, Natália Oliveira, Nara Campos, Elaine Almeira e Mãe Flávia Pinto. |
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Encerramento das atividades do II Festival de Museologia Social no Auditório do Museu de Arte do Rio |
Agradecimentos:
Como nada se faz sozinho, para nós, é fundamental terminar este relato com alguns agradecimentos. Primeiramente, a cada integrante e a cada iniciativa da Rede pelo afeto e empenho na concretização do II Festival de Museologia Social da Remus-RJ. Este evento foi feito por nós e para nós. Ocupamos um dos maiores museus do Rio de Janeiro – e do Brasil – e mostramos ao grande público a força da museologia social e a forma de fazer museu na qual acreditamos.
Também queremos deixar nosso agradecimento à equipe que tornou tudo possível, cuidando dos corres:
🛠 Produção
Henrique Porto
Nathália Lardosa
Sarah Braga
🎯 Assistente de Produção
Andressa Cristina Moreira
📌 Monitores
Lara Cristina Santos
Letícia Alves
Marina Mafra
Natália Oliveira
Kurt Celjar
📷 Fotografia
Fernanda Nogueira
📱 Social Media
Valeria Correa
🎥 Video Maker
Anna Lemos
✨ Ao Museu de Arte do Rio – MAR, por nos receber e nos conceder esse espaço.
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Arte fotográfica "Museu de Arte do Rio de Janeiro É MEU AMIGO!" exposta pelo Museu Almirante Negro |
Por fim, mas não menos importante, gostaríamos de agradecer a todos que vieram antes – e deixar o caminho aberto para os que virão depois. Só estamos aqui hoje, escrevendo sobre a Museologia Social que construímos e vivenciamos, graças àqueles que nos antecederam. Bênção aos mais velhos e muita gratidão no coração!
Viva a Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro!
Viva a museologia social!
Viva a museologia que serve a vida!
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Equipe de Produção do II Festival de Museologia Social da Remus-RJ |
Texto escrito por Valeria Correa e Nathália Lardosa, que, junto com o coletivo, sonharam este festival e, coletivamente, ajudaram a transformar o sonho em realidade - equipe de comunicação Remus-RJ.